Fisioterapia além do conhecimento técnico: quais as competências do fisioterapeuta do futuro
Não é segredo para ninguém que o mundo está em constante transformação. A revolução tecnológica impactou o mercado de trabalho, deixando algumas atividades obsoletas enquanto outras profissões ganham papel de destaque, como é o caso da fisioterapia. Embora o trabalho do profissional sempre tenha sido visto como indispensável nos tratamentos de problemas na fase aguda, o papel do fisioterapeuta do futuro agora vai além. Nos dias de hoje, os cuidados com a saúde ganham destaque e isso significa que a reabilitação continua sendo importante, mas o ditado “prevenir é melhor do que remediar” ganha mais espaço.
Além da conscientização em relação a busca por uma vida saudável, que tem feito aumentar o índice de praticantes de atividades físicas, a fisioterapia também se mostra essencial em hospitais, como ficou claro nos protocolos de cuidados da pandemia do novo coronavírus. As possibilidades para os fisioterapeutas só aumentam, mas eles precisam acompanhar a evolução do mercado.
A Dra. Diana Andrade, aluna da segunda turma de osteopatia da EOM Brasil, aproveitou a bagagem adquirida com o tempo de experiência no mercado e compartilhou algumas ideias com a gente. Confira a entrevista!
EOM: Você acha as coisas mudaram muito desde que escolheu cursar fisioterapia até agora?
Dra. Diana:
Sim, evoluiu muito! Quando entrei na faculdade existiam poucos mestrados e menos ainda doutorado na área de fisioterapia. Após 29 anos, o crescimento científico avançou em várias especialidades e o número de mestrados, doutorados em universidades públicas também está maior! Temos pós-graduações diversas, formações latu-senso e estrito-senso, métodos de tratamento especializado tais como: Osteopatia, RPG, Microfisioterapia, Método Busquet, Pilates, Método Rolfing entre tantos outros!
EOM: Como você acha que o “fisioterapeuta do futuro” precisa ser?
Dra. Diana
Já estamos a caminho do futuro! Os novos estudos avançam todos os dias com comprovações científicas para tratar os pacientes. Hoje, as formações da fisioterapia podem atuar próximas de todas as especialidades médicas. Ao meu ver, no futuro, só vai haverá fisioterapia, cirurgia e os remédios alopáticos serão reduzidos!
EOM: Qual a maior alegria em ser fisioterapeuta?
Dra. Diana
Minha maior alegria é poder cuidar da saúde das pessoas, melhorando sua qualidade de vida! Além da conscientização em relação a importância de uma vida saudável, o envelhecimento da população também reforça a ideia de que a fisioterapia é a profissão do futuro. Com tantas mudanças, é de se esperar que o profissional esteja preparado para ocupar o lugar que está se abrindo.
O que o fisioterapeuta precisa fazer para acompanhar as tendências do mercado?
Os novos perfis de paciente, as novas tecnologia e as constantes mudanças do mercado resultaram em transformações também no tipo de profissional que o segmento de fisioterapia exige. Não apenas a formação acadêmica do profissional será levada em conta, os pacientes cada vez mais avaliarão o comportamento, as habilidades, capacidades, valores, ética e autoconhecimento dos profissionais. O fisioterapeuta do futuro é um profissional diferenciado e completo.
Habilidades desejadas no fisioterapeuta do futuro:
- Inteligência Emocional: É essencial que o profissional tenha capacidade de entender e lidar com suas emoções para contribuir com seu próprio desenvolvimento e dos demais colegas de trabalho.
- Conhecimentos de tecnologia: A tecnologia está presente em cada um dos processos da área da saúde. Seja um agendamento de consulta, relacionamento com os pacientes…é importante que o fisioterapeuta tenha pelo menos uma noção de tecnologia.
- Flexibilidade: O mercado, as pessoas e os hábitos da sociedade estão em constante mudança, nesse sentido, o ideal é que o profissional do futuro consiga se adaptar às mudanças e exerça sua função com excelência onde quer que esteja.
- Aprendizado constante: O profissional deve ser um eterno aprendiz, pois através da busca pelo desenvolvimento e atualização, o fisioterapeuta será capaz de tratar as patologias do futuro e se destacar no mercado.
- Empatia: Em um mundo cheio de interações virtuais e com o avanço da inteligência artificial, a empatia se torna uma característica fundamental. Saber entender, avaliar e interpretar o que muitas vezes o paciente não diz é essencial para um tratamento bem sucedido.
- Interesse em networking: Participar de congressos, frequentar grupos de discussão e manter contato com colegas da faculdade já são atividades que muitos profissionais da saúde já realizam. Mas, em um futuro próximo, esse relacionamento profissional também vai migrar para o mundo virtual.
O Dr. Afonso Filho, Fisioterapeuta Osteopata e Especialista pela AOB, compartilhou sua visão a respeito das perspectivas para os próximos anos. Confira:
“Quando penso em fisioterapia do futuro, considerando que já entramos em uma era mais tecnológica e já vivemos parte desse período que nos aguarda, vejo pontos positivos e pontos negativos. Aos pontos positivos guardo os recursos tecnológicos como maior fonte de interação, desde o aprendizado até na abordagem clínica! É interessante pensar que as informações sobre avaliações, patologias, síndromes, enfim, tudo o que pode vir a acometer o ser humano já vem sendo compilado em um grande cérebro. Já se fala em uma Big Data, que seria um banco de dados clínicos para diversas patologias, agilizando a conduta do profissional e facilitando o acesso à informações científicas seguras, além de que talvez não precisemos mais escrever uma linha em nossa anamnese. Os computadores passarão a ouvir os pacientes e a associar as informações recebidas até um diagnóstico possível.
Nesse momento, vejo a importância do estudo e da necessidade do conhecimento anatômico e fisiológico aprofundado do fisioterapeuta do futuro, pois será necessário ter atitude e consenso com as informações automatizadas. A osteopatia é um grande exemplo do que vejo nesse profissional. A busca incessante por conhecimento, a minúcia de procurar entender as conexões do corpo humano é, na minha opinião, o que se tornará obrigatoriedade. É engraçado falar sobre a osteopatia pensando no futuro. Chega a ser até antagônico pensar que uma filosofia, se podemos assim dizer, criada em meados de 1870, pode ser colocada como base para o futuro da fisioterapia, não é mesmo?
Aplicativos e outras ferramentas tecnológicas já começaram a ser vistas no mercado de fisioterapia, e o que podemos esperar disso? A praticidade! As informações com todos os tipos de recursos (visual, auditivo, motor) tendem a crescer com muita força. Hoje abrimos uma articulação com todos os seus movimentos na palma de nossas mãos em nossos celulares. A realidade virtual já é uma realidade na reabilitação de diversas patologias, imaginemos só o que vem por aí! Junto a novos recursos, surgem novas oportunidades, mostrando que o mercado da fisioterapia também tende a ser muito promissor e reconhecido.
Em contrapartida, alguns pontos podem preocupar. Em mundo digital, que aceita conteúdos sem qualquer tipo de filtro, o ideal seria que os profissionais reportassem somente seus dados de efetividade, para contribuir com a ciência, e não casos isolados, pontuais, explorando a imagem momentânea de um paciente, como tem sido feito nas redes sociais.
Espero um futuro para a fisioterapia onde não haja espaço para mídia supérflua! Para uma boa performance, o fisioterapeuta deve compreender que o organismo humano é o mesmo há mais de 200 mil anos e que ele precisa adaptar o seu sistema “antigo” às mudanças do mundo moderno, que acontecem cada vez mais rápido – é por isso que vemos uma sociedade carregada emocionalmente, sedentária, com distúrbios alimentares e do sono.
O paciente do futuro requer, da mesma forma que o paciente do passado, uma compreensão holística da sua saúde, pois vemos que o cotidiano tem ligação direta com as doenças do presente.
No campo acadêmico, o fisioterapeuta do futuro vai se deparar com aulas teóricas não presenciais, gamificação, realidades virtuais, aparelhos de última geração, gerando facilidade e exigindo ainda mais comprometimento e empenho do aluno, e também do profissional.
O que mais me preocupa é a velocidade com que a informação é disseminada. Autopromoção, venda da saúde, promessa da cura, são os focos de profissionais que não praticam a ética no mundo cibernético. Os famosos “posts” são muito mais rápidos e eficazes se comparados aos órgãos regulamentares que buscam impedi-los. O domínio dos recursos tecnológicos gera uma guerra antiética nas redes sociais, profissionais mais preocupados em se promover através do marketing e se esquecendo da importância de se especializar, estudar, titular e respeitar a ética da profissão. Que o Fisioterapeuta do futuro saiba lidar com as informações de valor e que não perca a essência da verdadeira fisioterapia e da minúcia integrada do sistema humano.
Vamos em frente, o futuro da fisioterapia já está acontecendo! Que a busca pelo conhecimento não seja atropelada pelo automatismo e que o Fisioterapeuta do Futuro saiba voar, porém com os pés no chão enraizados pela anatomia e pela filosofia que Dr. Still nos deixou!”, finalizou Dr. Afonso.
O fisioterapeuta do futuro é aquele que nunca deixa de inovar, buscar conhecimento e ferramentas para oferecer os melhores cuidados aos pacientes. É claro que a graduação e a especialização são essenciais para a construção do futuro, mas juntas da tecnologia e inovação oferecem um leque enorme de opções de atuação para o profissional. Converse com a EOM e saiba como se preparar!